quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Valores, juízos de valor e teorias

Valores, juízos de valor e teorias

António Padrão

Hoje não há valores?

Paulo Gonçalves, um dos portugueses que participou no rali Dakar 2016, esteve em grande destaque na sétima etapa, depois de ter parado mais de dez minutos para ajudar Matthias Walkner — um piloto rival — que sofrera um acidente e partiu o fémur. Esta ação poderia ter custado a Paulo Gonçalves a liderança da classificação geral, mas ele não hesitou em parar para ajudar. Mais tarde, escreveria no Facebook:
Fiz aquilo que me competia. […] Não sou um herói, sou um ser humano com respeito pelos outros. A nossa vida vale mais que qualquer vitória, sem ela não vencemos.
O Público, onde li a notícia, refere que Paulo Gonçalves “protagonizou a boa ação do dia na sétima etapa do rali” (Pimentel, 2016).
As nossas ações podem ter várias características. Quando encaradas sob o aspeto pelo qual podem chamar-se boas ou más, têm um valor moral. Ao lermos as declarações de Paulo Gonçalves e a notícia do Público, formamos a crença de que é uma pessoa de valores, ou com valores, querendo com isto dizer que segue bons valores: foi solidário, bondoso e respeitoso com o seu rival. Mas também pode haver quem pense que ele agiu mal, que o importante era o êxito, e, por isso, não devia ter parado para ajudar, aproveitando para reforçar a sua posição de liderança. Perante a posição destes últimos, algumas pessoas dirão que eles “não têm valores”, ou, generalizando, poderão dizer que “hoje não há valores” ou que “vivemos uma crise de valores”. Quem afirma tal coisa é provavelmente quem não aprova que os outros se guiem por valores diferentes dos seus. É claro que hoje há valores como havia há cinquenta, cem ou mil anos. E continuará a haver valores enquanto existirem seres humanos ou outros capazes de valorizar coisas:
Quem declara que não há valores, quer na verdade dizer que a maior parte das pessoas valorizam o que ele não valoriza e não valorizam o que ele valoriza (Murcho, 2011, p. 46).

Subjetivismo, relativismo e objetivismo

Será que podemos dizer que é verdadeiro que Paulo Gonçalves fez uma boa ação?


 Padrão, A. (2016). Valores, juízos de valor e teorias. In Crítica.

Ver o artigo completo aqui:

Artigo originalmente publicado na revista defacto, n.º 24.
Padrão, A. (2016). Valores, juízos de valor e teorias filosóficas. In defacto, n.º 24. Braga: ESAS, pp. 6-8.