quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Conhecimento vulgar e conhecimento científico

Também denominado "empírico", o conhecimento vulgar é o que todas as pessoas adquirem na vida quotidiana, ao acaso, baseado apenas na experiência vivida ou transmitida por alguém. Em geral resulta de repetidas experiências casuais de erro e acerto, sem observação metódica nem verificação sistemática, por isso carece de caráter científico. Pode também resultar de simples transmissão de geração para geração e, assim, fazer parte das tradições de uma coletividade.
Não é necessário estudar Psicologia para se saber que uma pessoa está alegre ou está triste. Você conhece o estado de humor dessa pessoa porque empiricamente já passou por muitas experiências de contacto com pessoas alegres ou tristes. É igualmente vulgar o conhecimento que, em geral, o lavrador iletrado tem das coisas do campo. Ele interpreta a fecundidade do solo, os ventos anunciadores de chuva, o comportamento dos animais. Sabe onde furar um poço para obter água, quando cortar uma árvore para melhor aproveitar a sua madeira e se a colheita deve ser feita nesta ou naquela lua. Ele pode, inclusive, apresentar argumentos lógicos para explicar os factos que conhece, mas o seu conhecimento não penetra os fenómenos, permanece na ordem aparente da realidade. Como é fruto da experiência circunstancial, não vai além do facto em si, do fenómeno isolado.
Embora de nível inferior ao científico, o conhecimento vulgar não deve ser menosprezado. Ele constitui a base do saber e já existia muito antes do homem imaginar a possibilidade da Ciência.
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O conhecimento científico resulta de investigação metódica, sistemática da realidade. Ele transcende os factos e os fenómenos em si mesmos, analisa-os para descobrir as suas causas e concluir as leis gerais que os regem.
Como o objeto da Ciência é o universo material, físico, naturalmente perceptível pelos órgãos dos sentidos ou mediante a ajuda de instrumentos de investigação, o conhecimento científico é verificável na prática, por demonstração ou experimentação. Além disso, tendo o firme propósito de desvendar os segredos da realidade, ele explica e demonstra os fenómenos com clareza e precisão, descobre as suas relações de predomínio, igualdade ou subordinação com outros factos ou fenómenos. De tudo isso conclui leis gerais, universalmente válidas para todos os casos da mesma espécie.

GALLIANO, A. G. (1979). O método científico: teoria e prática. São Paulo: Harper & Row, pp. 18-19 (adaptado).