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domingo, 10 de dezembro de 2017

O grande alcance da razão

Aquilo que a razão tem de especial é ser capaz de chegar a uma conclusão com um nível de certeza diferente do de qualquer outro instrumento mental. Numa discussão lógica, desde que os pressupostos de partida sejam verdadeiros, então as conclusões argumentadas validamente também devem ser verdadeiras e pode saber-se que são verdadeiras. Se conseguir levar, convincentemente, alguém através de uma discussão lógica, a ideia que colocou na mente dessa pessoa instalar-se-á nela e nunca a deixará.
Mas para que o processo funcione, tem de ser fragmentado em pequenos passos e cada um deles tem de ser totalmente convincente. O ponto de partida de cada passo é algo que o público pode ver claramente que é verdadeiro ou algo que, num momento anterior da palestra, se provou ser verdadeiro. Assim, o mecanismo nuclear, neste caso, é se-então: se X é verdadeiro, então, é claro, segue-se Y (porque todo o X implica um Y).

Anderson, Chris (2016). TED talks – O guia oficial TED para falar em público. Lisboa: Temas e Debates – Círculo de Leitores, p. 97.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Estrutura do ensaio filosófico

Um bom ensaio de filosofia tem, geralmente, a seguinte estrutura geral:

Primeira parte: introdução

1. Breve apresentação do problema que será tratado no ensaio. Geralmente, apenas duas ou três linhas. Por exemplo, «Neste ensaio discute-se o problema de saber em que condições uma vida humana poderá ter sentido.»
2. Explicitação da teoria defendida. Geralmente, apenas uma linha. Por exemplo, «A posição defendida neste ensaio é que uma vida humana ativamente entregue a finalidades com valor é uma vida com sentido.»

Segunda parte: desenvolvimento

3. Apresentação mais desenvolvida e articulada dos aspetos fundamentais do problema que será tratado no ensaio. É nesta parte que se fazem distinções concetuais e se esclarecem alguns conceitos centrais importantes, se houver necessidade disso.
4.   Apresentação das posições em confronto.
5. Apresentação pormenorizada da posição que se defende e dos argumentos a seu favor. Resposta às objeções mais prováveis aos argumentos apresentados.
6.  Apresentação dos argumentos mais importantes a favor da posição contrária e respetiva refutação. Resposta a algumas das objeções mais prováveis às refutações apresentadas.

Terceira parte: conclusão
7.  Conclusão: breve recapitulação do problema tratado e da posição defendida.

Almeida, A., Teixeira, C. & Murcho, D. (2013). 50 Lições de Filosofia 10.º ano – Caderno do Estudante. Lisboa: Didáctica Editora, pp. 40-41.

O texto argumentativo – o que é, como se faz

A escrita de um texto (redação) implica o conhecimento de várias técnicas, independentemente do género textual a produzir. Há um conjunto de modelos textuais que utilizamos de acordo com as nossas necessidades comunicativas, pelo que a sua tipologia varia de acordo com o objetivo pretendido.
Basicamente escrevemos um texto para expor conhecimento, para defender uma ideia ou formar a opinião do leitor. Deste modo, a progressão textual (organização de ideias) exige uma articulação e estruturação coerentes.

Texto expositivo-argumentativo
1. Definição – tipo de texto que visa convencer/persuadir o leitor/ouvinte sobre a nossa “verdade” face a um assunto. Neste sentido, assenta numa tese cuja veracidade se demonstra e prova através de um conjunto de argumentos, que sustentam o ponto de vista apresentado, devidamente ilustrados com exemplos plausíveis, oriundos das diferentes áreas do saber. Secundariamente pode rebater contra-argumentos.
A reflexão apresenta um “olhar” muito particular e pessoal de alguém sobre um determinado assunto/problema.

2. Estrutura
- Introdução – parágrafo inicial, no qual se apresenta a proposição (tese, opinião…). Deve ser apresentada de forma assertiva, clara e bem definida, sem referir quaisquer provas ou razões. Pode recorrer-se a uma frase de efeito (A verdadeira função do homem é viver, não existir - Jack London); excerto de autor (Ser descontente é ser homem); referência biográfica /e ou histórica (História como termo também pode verificar toda a informação do passado); provérbio (Quem porfia sempre alcança); definição de conceitos (O Homem é um ser social);
- Desenvolvimento – contém: 
a) análise/explicitação da tese;
b) apresentação dos argumentos que provam a verdade da tese (factos, exemplos, citações, dados estatísticos, entre outros);

- Conclusão - parágrafo final, no qual se apresenta uma síntese da demonstração feita no desenvolvimento; retoma a afirmação inicial.

Nota: Para uma correta argumentação, é necessária a escolha e ordenação dos argumentos que suportam a demonstração da tese; devem ser pertinentes e coerentes, apresentados de forma lógica e devidamente articulada.


Matos, A. & Braga, C. (2017). Preparar o exame nacional de Português – 12.º ano. Braga: Escola Secundária de Alberto Sampaio, p. 104.

sábado, 11 de fevereiro de 2017

PREPARAR O EXAME NACIONAL DE PORTUGUÊS - 12.º ANO

Preparar o exame nacional de Português – 12.º ano
de

António Alberto Matos e Corina Pinheiro Braga
Braga: Escola Secundária de Alberto Sampaio, 2017


Um grupo de docentes do Departamento de Línguas Clássicas e Românicas da Escola Secundária de Alberto Sampaio [ESAS] publicou um livro prático, auxiliar e sintético destinado a todos aqueles que sentem mais dificuldades na interpretação, na expressão escrita ou na gramática, no momento em que se preparam para enfrentar uma prova final de Português.
Na perspetiva dos seus autores, apresenta alguns traços inovadores.
Assim, procede a um levantamento das questões mais frequentes de resposta restrita, encontradas nos exames nacionais. Orienta, de uma forma prática, na redação da resposta a questões de interpretação. Identifica, além disso, alguns dos principais erros cometidos pelos examinandos.
No referente à gramática, são elencadas as questões abordadas nos exames nacionais de Português – 12.º ano, desde 2007 a 2016, organizando-as por categorias gramaticais, facilitando o seu estudo e apreensão. Aconselha, assim, os discentes no estudo da gramática, alertando-os para as questões mais frequentes, porque consideradas essenciais no domínio da língua, e aquelas em que revelam maior dificuldade.
À semelhança de outros manuais do mesmo género, expõe algumas sínteses de autores e de todas as obras literárias que constam dos programas em vigor.
Por fim, fornece aos alunos orientações muito práticas para a redação do texto expositivo-argumentativo.
Os autores desejam que os seus destinatários se apropriem dos modelos propostos, neste livro, e revelem a capacidade de os superar com o seu espírito criativo.
Esta publicação pode ser adquirida na reprografia da ESAS por qualquer aluno (esteja ou não matriculado no nosso Agrupamento), a um preço simbólico de 2,50 €.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Como disse? Raciocínio verdadeiro?!

Comentário de Marques Mendes na SIC (10/10/2015): "isso é um raciocínio tão verdadeiro como falso".
Os raciocínios não são verdadeiros nem falsos, mas válidos ou inválidos.
Que tal um curso básico de lógica para os comentadores? E para os políticos? Ou, pelo menos, algumas leituras simples, como o meu Algumas noções de lógica.


domingo, 16 de novembro de 2014

Demonstração e argumentação

Uma dedução é um argumento que, dadas certas coisas, algo além dessas coisas necessariamente se segue delas. É uma demonstração quando as premissas das quais a dedução parte são verdadeiras e primitivas, ou são tais que o nosso conhecimento delas teve inicialmente origem em premissas que são primitivas e verdadeiras; e é uma dedução dialéctica se raciocina a partir de opiniões respeitáveis.
Aristóteles, Tópicos, 100ª

Considerando o tipo de argumentos cuja validade é dedutiva, Aristóteles distingue a «demonstração» da «dedução dialética».
Mas, o que existe de comum e de diferente entre uma demonstração e uma dedução dialética? Comparemos os seguintes argumentos:
1) 100 é um número inteiro divisível por 2.
    Todo o número inteiro divisível por 2 é um número par.
Logo, 100 é um número par.

          2) O dever de não mentir é um dever moral.
    Todos os deveres morais são absolutos.
              Logo, o dever de não mentir é um dever absoluto.

a)     Os argumentos 1 e 2 têm a mesma forma lógica, que pode ser representada deste modo:
                                    Algum A é B.
                                Todo o B é C.
                                Logo, algum A é C.

(NB: As letras A, B, C simbolizam termos gerais que designam uma dada classe ou coleção de coisas, como «100» ou «o dever de não mentir», «número inteiro divisível por 2» ou «dever moral», etc.)

b) Os argumentos 1 e 2 são, ambos, dedutivamente válidos. Portanto, é impossível que sendo as suas premissas verdadeiras a conclusão possa ser falsa.
c)  E, sendo 1 e 2 argumentos dedutivamente válidos, se tiverem premissas verdadeiras, ambos serão argumentos sólidos.
d)    Mas, será que 1 e 2 são ambos argumentos sólidos?

Eis uma diferença entre estes argumentos:
As premissas de 1 são verdades bem estabelecidas e indisputáveis. Qualquer criança sabe distinguir os números pares dos números ímpares, pelo menos desde o 1º Ciclo, e não terá qualquer dificuldade em aceitar a conclusão, e até compreende que não pode deixar de a aceitar obrigatoriamente.
Mas, quanto às premissas de 2, pelo menos a segunda não é uma verdade bem estabelecida e indisputável, nem para as crianças nem mesmo para adultos bem informados. Quando muito, é apenas plausível ou verosímil.
 O que é que se conclui desta diferença?
Conclui-se que o argumento 1 é um argumento sólido. Não é racional aceitar as premissas e não aceitar a conclusão.
Se usarmos a terminologia de Aristóteles, denominar-se-á o argumento 1 de «demonstração», porque é um argumento dedutivo válido, com premissas que são verdades evidentes ou bem estabelecidas, o que implica que é obrigatória a aceitação da sua conclusão, pois esta segue-se logicamente de verdades indisputáveis.
Mas, quanto ao argumento 2, que também é dedutivamente válido, conclui-se que a sua solidez é disputável, porque a verdade da segunda premissa não está bem estabelecida. A proposição de que os deveres morais são absolutos é objeto de uma profunda controvérsia entre utilitaristas e deontologistas, por exemplo, e mesmo entre estes últimos, que em geral são favoráveis a essa ideia, não há uma forma comum de entender o estatuto dos deveres morais.
Por isso, um agente cognitivo, seja criança ou adulto, não está constrangido a aceitar a conclusão do argumento 2 e até é racional contestá-la. Para isso, basta apresentar as melhores razões contra as premissas.
E, se usarmos a terminologia de Aristóteles também neste caso, denominar-se-á o argumento 2 de «dedução dialética», porque é um argumento dedutivo válido com uma premissa cuja verdade é apenas provável ou verosímil.
O universo da argumentação compreende o estudo da lógica formal e da lógica informal. A lógica formal estuda os aspetos lógicos da argumentação que se podem explicar exclusivamente pela forma lógica. A lógica informal estuda os aspetos da argumentação que não dependem exclusivamente da forma lógica. Por isso, a lógica informal também estuda certos aspetos dos argumentos dedutivos válidos, como a relação de plausibilidade das premissas relativamente à conclusão e como a importância e consequências do estado cognitivo dos agentes envolvidos na argumentação para a própria argumentação.

José António Pereira
Escola Secundária de Alberto Sampaio