O Grupo de Filosofia da Escola Secundária de Alberto Sampaio comemora o Dia Mundial da Filosofia com as seguintes atividades:
quarta-feira, 19 de novembro de 2014
domingo, 16 de novembro de 2014
Demonstração e argumentação
Uma
dedução é um argumento que, dadas certas coisas, algo além dessas coisas
necessariamente se segue delas. É uma demonstração quando as premissas das
quais a dedução parte são verdadeiras e primitivas, ou são tais que o nosso
conhecimento delas teve inicialmente origem em premissas que são primitivas e
verdadeiras; e é uma dedução dialéctica se raciocina a partir de opiniões
respeitáveis.
Aristóteles, Tópicos, 100ª
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Considerando o tipo de argumentos
cuja validade é dedutiva, Aristóteles distingue a «demonstração» da «dedução
dialética».
Mas, o que existe de comum e de diferente
entre uma demonstração e uma dedução dialética? Comparemos os seguintes
argumentos:
1) 100 é um número inteiro
divisível por 2.
Todo o número inteiro divisível por 2 é um
número par.
Logo, 100 é um número par.
2) O dever de não mentir é um dever
moral.
Todos os deveres morais são absolutos.
Logo, o dever de não mentir é um
dever absoluto.
a) Os argumentos 1 e 2 têm a mesma forma
lógica, que pode ser representada deste modo:
Algum
A é B.
Todo o B é C.
Logo, algum A é C.
(NB: As letras A, B, C simbolizam termos
gerais que designam uma dada classe ou coleção de coisas, como «100» ou «o
dever de não mentir», «número inteiro divisível por 2» ou «dever moral», etc.)
b) Os argumentos 1 e 2 são, ambos,
dedutivamente válidos. Portanto, é impossível que sendo as suas premissas
verdadeiras a conclusão possa ser falsa.
c) E, sendo 1 e 2 argumentos dedutivamente
válidos, se tiverem premissas verdadeiras, ambos serão argumentos sólidos.
d) Mas, será que 1 e 2 são ambos argumentos
sólidos?
Eis uma diferença entre estes
argumentos:
As premissas de 1 são
verdades bem estabelecidas e indisputáveis. Qualquer criança sabe distinguir os
números pares dos números ímpares, pelo menos desde o 1º Ciclo, e não terá
qualquer dificuldade em aceitar a conclusão, e até compreende que não pode
deixar de a aceitar obrigatoriamente.
Mas, quanto às premissas de
2, pelo menos a segunda não é uma verdade bem estabelecida e indisputável, nem
para as crianças nem mesmo para adultos bem informados. Quando muito, é apenas plausível
ou verosímil.
O que é que se conclui desta
diferença?
Conclui-se que o argumento 1
é um argumento sólido. Não é racional aceitar as premissas e não aceitar a
conclusão.
Se usarmos a terminologia de
Aristóteles, denominar-se-á o argumento 1 de «demonstração», porque é um
argumento dedutivo válido, com premissas que são verdades evidentes ou bem
estabelecidas, o que implica que é obrigatória a aceitação da sua conclusão,
pois esta segue-se logicamente de verdades indisputáveis.
Mas, quanto ao argumento 2,
que também é dedutivamente válido, conclui-se que a sua solidez é disputável,
porque a verdade da segunda premissa não está bem estabelecida. A proposição de
que os deveres morais são absolutos é objeto de uma profunda controvérsia entre
utilitaristas e deontologistas, por exemplo, e mesmo entre estes últimos, que
em geral são favoráveis a essa ideia, não há uma forma comum de entender o
estatuto dos deveres morais.
Por isso, um agente
cognitivo, seja criança ou adulto, não está constrangido a aceitar a conclusão
do argumento 2 e até é racional contestá-la. Para isso, basta apresentar as
melhores razões contra as premissas.
E, se usarmos a terminologia
de Aristóteles também neste caso, denominar-se-á o argumento 2 de «dedução
dialética», porque é um argumento dedutivo válido com uma premissa cuja verdade
é apenas provável ou verosímil.
O universo da argumentação
compreende o estudo da lógica formal e da lógica informal. A lógica formal
estuda os aspetos lógicos da argumentação que se podem explicar exclusivamente
pela forma lógica. A lógica informal estuda os aspetos da argumentação que não
dependem exclusivamente da forma lógica. Por isso, a lógica informal também
estuda certos aspetos dos argumentos dedutivos válidos, como a relação de
plausibilidade das premissas relativamente à conclusão e como a importância e
consequências do estado cognitivo dos agentes envolvidos na argumentação para a
própria argumentação.
Escola Secundária de Alberto Sampaio
Demonstração
Estabelecer conclusivamente a verdade de uma proposição é demonstrá-la. Numa demonstração direta, estabelece-se a verdade da proposição p quando se deriva validamente p de premissas verdadeiras. Numa demonstração indireta, a verdade de p é estabelecida quando se refuta não p.
Note-se que «demonstração» (como «demonstrar», «demonstrável», etc.) é um termo factivo. Demonstrar algo é conseguir estabelecer isso, e é diferente de argumentar apenas a seu favor, ou seja, de procurar estabelecer tal coisa. De igual modo, refutar uma afirmação é conseguir mostrar a sua falsidade, e é mais do que argumentar apenas contra ela.
Mautner, T. (2010). Dicionário de filosofia. Lisboa: Edições 70, p. 190.
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