Em termos etimológicos, a
distinção entre ética e moral é negligenciável, na medida em que remete para
raízes diferentes mas com significados aproximados. A Ética remete para o grego
ethos, que tem o sentido de «carácter», mas também «modo de ser» ou
«costume». A moral deriva do latim mos, mores no plural, que traduz
sobretudo a ideia de «costume», mas pode também acabar por ter as mesmas
acepções que ethos. No uso que estas palavras adquiriram nas línguas
modernas e também na maior parte dos pensadores a moral acaba por ser
geralmente do domínio do senso comum, i.e., a moral (costumes, modos de ser,
carácter) geralmente aceite, enquanto a Ética — aqui com maiúscula —
corresponde à reflexão filosófica sobre a moral nesse sentido. Por isso o mais
usual é fazer equivaler Ética a Filosofia Moral. A Ética ou Filosofia Moral
reflecte sobre o domínio da moral do senso comum.
[…]
O domínio da moral comum é
uma instituição informal e empiricamente descritível. As sociedades, pelo menos
as sociedades humanas, observam conjuntos de regras sobre o que é bom ou mau
fazer e sobre o tipo de carácter que é bom ou mau ter. Numa primeira acepção
podemos entender o conteúdo dessa «bondade» ou «maldade» como indicando apenas
o que é socialmente condenável e o que é alvo de reconhecimento social
positivo. No entanto, esse é apenas o ponto de partida da Ética ou Filosofia
Moral. Ela parte da instituição da moral do senso comum já existente. Mas procura
ir para além da simples aceitação acrítica dessa moralidade e, pelo contrário,
encetar um processo de reflexão que confronta a moral do senso comum com as
suas contradições e insuficiências.
Não raras vezes, a moral
comum faz juízos inconsistentes ou contraditórios, usa conceitos ambíguos e
baseia-se em princípios insuficientemente argumentados. A Ética deve assinalar
estes problemas, assim como fornecer alternativas intelectualmente mais
robustas.
Rosas, J. C. (2016).
Conceitos que pensam a ação. In Maria
do Céu Patrão Neves (Coord.). Ética: dos
fundamentos às práticas. Lisboa: Edições 70, pp. 83-85.